domingo, 13 de maio de 2012

Minhas mães ancestrais...

13 de maio, dia das mães, duas datas extremamente injustas para as mulheres de axé. Para as mães-de-santo que não tem a historia da trajetória de grandes pessoas que contribuíram para libertar a população negra. Vivem em sua maioria em situação de pauperização e desmonte politico, onde o imenso saber cientifico dessas mulheres é de forma racista desprezado pelo ambiente das ciências brancas e do senso comum que mantem a intolerância e estupidez sobre a importância social dessas mulheres.Queria hoje, neste dia chatissimo e infestado de gente que vive das misérias da falta do poder, manifestar o meu imenso desejo de ver a maioria das mulheres que foram,são e será `as mantendedouras  das religiões de matriz africana,  serem reparadas pelo Estado. Que os saberes que essas mulheres trazem dentro de um sistema de ensino altamente sofisticado e baseado na oralidade, ganhe o devido valor dentro da nossa sociedade, e atravesse os murros racistas e misóginos das academias de ensino e educação. As mulheres do candomblé carregam uma sabedoria cientifica incrível, uma bem-querer ético e solidário profundo. Hoje neste dia tediosos e cheio de hipocrisia material, onde minha cidade celebra a abolição da escravatura e entrega o presente para a orixá dona da consciência, a grande psicologa do povo de Axé,Yemanjá. Onde os filhos do machismo tentam reforçar o injusto determinismo biológico da mãe santinha e martire. Presto minha homenagem e todo meu respeito por essas mulheres que foram arrancadas do seu continente, que aqui nesta terra de matas e muita água, tomam a frente do poder politico das religiões de matriz africana, por designação de Oyá. Os homens que eram escravos rurais, não tinham o trânsito fácil para salvaguardar o culto às/aos Deusas/Deuses negros. Presto homenagem a mulher negra que começou a comercializar o acará de Yansã, agradeço a perseverança da mulher negra que suportou a situação de estupro que vivia com o senhor de engenho e transformou isso em politica de classe. Bato "paô" para as mulheres negras da Irmandade da Boa Morte e todas as outras Irmandades que foram lavar o adro das igrejas brancas nos tirando da invizibilidade e mesmo criando o sincretico nos afirmou como pessoas de cultura e organização. Reverencio as varias mulheres de Axé da minha cidade que vivem nas periferias, que sofrem o preconceito dos fundamentalistas cristãos, que não sabem escrever, que vivem nas cozinhas com menos de um salário, mas que se enfeitam lindamente de bordados e brocados, para os intelectuais escrotos, fotografarem, escreverem e não retornarem com responsabilidade e justiça para essas mulheres poderem viver com um pouco de dignidade. Declaro o meu imenso amor pelas minhas mães Manuela de Ogun Já e Consuelo de Onira, desejo que os venenos do mundo não disvirtuem a missão que o pai Oxalá designou para vocês e que mamãe Yemanjá cuide do equilibrio mental, porque sei que não é facil estar saudavel psicologicamente numa terra que tem sua educação formal excessivamente fincada nas articulações do racismo. Caminhos Aláfiados para todas as mulheres de axé deste pais, uma nação que ainda não soube pedir perdão para os nossos ancestrais e nem preparar com justiça e humanidade a nossa promoção. Mesmo com "tanta dor que nos invade" somos o que há de mais lindo e transformador neste país, o nosso tempo ainda vai chegar e todas nós mulheres negras do axé ainda viveremos o nosso momento de respeito e tranquilidade no exercício da nossa fé.AXÉ!

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