segunda-feira, 26 de julho de 2010

Na lama do berçario de Nanã!


Quando morri,procurei o mangue,nada espiritual me levou,quero dizer,consciência  mistica,fui pela minha eterna curiosidade de felina,nem sabia que estava morta,percebi  a minha condição de zumbi,justamente na coroa da Caiera,quando experimentei no mar a água doce do rio desembocando,trançando,unindo ao berçário(é no mangue que nasce toda vida marinha do litoral do recôncavo),foi nesse experimentar da água doce,que fica por cima da salgada,que compreendi  que tinha  que renascer da lama,da lama da minha terra,que foi testemunha do sangue negro derramado,na prensagem da cana,do marítimo besouro mangangá,do chumbo,das doenças ocupacionais das marisqueiras,da cachaça dos pescadores,do “presilhar “do siris,das variedades dos bichos que vivem debaixo dela,dos caranguejos  que ficam apaixonados nas luas novas e cheias,da mosca  mutuca,que me deixou  de cama,do “querosene” que é repelente,do abraço de Dani,Nenengo e Abacaxi,crianças lindas que estão morrendo,de ter que envelhecer  e entender que mangue não é pra brincar.Foi o mangue das águas doces e salgadas,berçário dos neném marinhos,que conheci de verdade minha amiga Deislane,amizade que me carregou no colo e me alimentou,com tanto carinho,que agora me ver crescer assim,tão independente.Só percebi que as minhas idas e vindas pela lama era um chamado da fé,numa experiência muito particular,que não cabe aqui(ainda),mas estava longe de entender que era a presença de Nanã,minha velhinha,da grinalda de flores cor de rosa e lilases,a dona da criação,do barro que nascemos e que retornamos,que cuida de todo começo e que nos conforta no fim,a senhora que nos guarda quando está findando o tempo,onde as marcas,as manchas,e o senil envelhecer bate em nosso corpo.Nanã  mãe da Boa Morte,das senhoras matriarcas,abolicionistas da Cachoeira,que ainda mora a moça Oxum,a dona da minha cabeça,mas que a cada dia vê lá na frente a velhinha me esperando,cobrindo meu corpo com uma manta roxa, dando sabedoria,livrando-me dos males,me educando para o SILÊNCIO e a AÇÃO.Nanã de minha tia Naninha,que herdei,que me revela em sonhos as armadilhas.Dedico o meu mais profundo amor,a minha cura, à minha velha.Esteja me esperando Nanã da grinalda de flores rosa e lilás,quero viver,cuidando do berçário das minhas gerações,ver meus netos,bisnetos,minha nação.Quero ser forte,professora,matriarca da minha tribo.Você Senhora  do tempo que passa,me embalou,me fez caminhar na sua lama,minha velha,me trouxe de volta,me disse na  lama do mar,no meu pranto,que a vida é bela,a vida é boa,a vida é linda,e tudo o tempo leva,não existem  derrotas,não existem vitórias,existe vida e morte e o sempre nascer .Sou uma “siriúba”,que parindo faço minha criação,jogando meus fetos na lama e fertilizando a terra.SALUBÁ NANÃ,SALUBÁ

2 comentários:

Anônimo disse...

Salubá!
Que texto bonito, Amapagu. Foi falar logo de Nanã... não posso deixar de me manifestar.

beijos
Hugo

Jurandy Boa Morte disse...

Salubá!

Estou arrepiado.