quinta-feira, 1 de julho de 2010

Eu gosto de ser mulher,mas...


Judith Buttler propõe uma sociedade andrógina,sem separação entre homens e mulheres,isso "ainda" não  me apaixona,sou bem mulherzinha no que diz aos aparatos,vestuário e gosto pelo pênis,já me questionei se poderia gostar de ser homem,gostar de vargina,mas como diz a canção "Eu gosto de ser mulher",mesmo num mundo hegemonicamente androcêntrico,onde as mulheres podem ser muito mais machistas do que alguns homens,quero ser "mulher",porem,segurar a bandeira de defensora da causa,é deveras sofrido.Simone de Beauvoir já indicava,que quem sofre opressão de certa forma permite ser oprimida.Estou em crise,estou e ainda vejo coisas que me aterrorizam,estava passando por um certo ponto de "moto taxi",quando ví um casal,o "homem" estava estrangulando a "mulher",havia tanto ódio nele,e ela sorria!Sábado passado,numa festa de adolescentes,um casal de classe média alta,entre seus 17 anos,estavam numa terrível crise de ciúmes,o garoto apertava violentamente o braço da garota,queria me pronunciar,mas me advertiram que a família de ambos sabia do namoro doentio,e detestava quando terceiros alertavam ao fato dessa relação indicar doença.Tenho amigas maravilhosas,mas quando estão namorando,veem qualquer outra mulher como inimiga em potencial,colocam seus homens em altares mais sagrados,mas ainda do que o da própria família,vivem se sacrificando,na esperança de um casamento,ou da eternidade que o casamento propõe,mesmo que passem por cima de outras pessoas,pelo seus sonhos em laços brancos e uma cruzar de braço cafona tomando sidra(cereser,na maioria das vezes).Recuso-me a viver relações com homens casados e afins,ontem ouvir de um que sou "puritana",quando decidi ser feminista,decidi também não me envolver com homens casados,com namoradas,é uma atitude política e solidária,considerando que provavelmente ficarei sozinha(kkkkkk).Gosto quando Saffioti diz que o inimigo da mulher não é o homem,mas são os "nós"(classe,idade/geração,raça/etnia),mas Saffioti esqueceu de considerar que as mulheres não devem-se olhar como inimigas uma das outras,percebo essa linha de tensão na sociedade em que vivo mais atenuada,do que o homem como inimigo,desde muito cedo,aprendemos a desconfiar de nosso espelho gênero,a literatura nos descreve,ou como a romântica e angelical,ou como a sensual devoradora,e se faz interessante,se enquadrar  num desses rótulos,vemos os meios midiáticos,vendendo para nós mulheres modelos inatingíveis de comportamento e beleza,Marcia Tiburi certa vez disse,que ou existem as submissas ou as rebeldes,já vivi as duas e detestei a submissão,entretanto apesar de  entender que sou sujeito da minha própria existência,é  mais difícil ser rebelde,você conhece de perto o ódio e a intolerância das pessoas.Infelizmente nós perdemos o foco da nossa luta,saímos de casa para trabalhar,mas ás 18H00.voltamos para uma jornada perversa,trabalhos domésticos , deitar linda e malhada com um homem,que fazemos de tudo para chamarmos de "meu".Vivo dizendo que quem casa,ou namora como um homem porque financeiramente ele é mais favorecido,essa pessoa não deve condenar as prostitutas,o que difere é a quantidade,já me vi dessa forma,prostituída num casamento,não que condene a prostituição,o que condeno e abomino é que a pessoa se conforme em ser objeto,quando existe essa conformação,relegamos a construção da cidadania.Quando digo que sou feminista,imediatamente me dizem que serei "sapata",que ficarei sozinha,isso pouco me importa,se serei "sapata",provavelmente existirá muita verdade,somos seres moveis,não existe uma realidade fixa,pronta pra ser incorporada,tudo em nós é adquirido a partir da aprendizagem,então,tudo pode mudar,não existe essa de Gabriela,"eu nasci assim,eu cresci assim e sou mesmo assim",essa coisa de essência,que nos naturaliza,talvez seja a coisa mais perigosa em ser humano,mas confesso,a solidão me apavora,não a solidão dos corpos,o que me dá medo é a solidão da luta,de estar sozinha em carregar bandeiras,em decidir por uma "ideologia",não quero ser igual,quero viver as diferenças,em ser e existir,o que abomino são as desigualdades,e nós mulheres estamos no cerne desse sistema,somos nós as menos favorecidas,mulher, negra, pobre ,lésbica,esse é o retrato do sofrimento.Talvez nesse momento você que está me lendo,veja o quanto sou chata,porem,esse momento é de desabafo,ficarei  silenciosa,cansei de ser mordida pelas pessoas peçonhentas,principalmente quando permitimos que elas entrem na nossa morada,isso dói muito mais,mas tenho fé,que haverá um dia em que ouvirei que existe sim amizade entre todos,os homens,as mulheres e entre aqueles que não se identificam nem como masculino ou feminino!

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