quarta-feira, 8 de maio de 2013

Hoje é dia de Maria- Nossa Sra da Piedade




Não foram os assassinatos na Praça da Piedade que me motivaram escrever hoje dia 08 de maio sobre a passagem da Virgem Maria com o filho morto aos braços, apesar de ser tenebroso saber que pessoas são assassinadas num local onde fica a sede da Segurança Publica de um Estado, e que há tempos é uma localidade onde pessoas vivem violando e sendo violentadas, com a Igreja da Piedade impávida ao cotidiano cruel que o centro da cidade de Salvador vive. O que motiva a minha "paixão" por Nossa Sra da Piedade é a imagem do "deus" morto nos braços da sua mãe, uma mulher que sofre as dores de ver seu filho condenado pelo poder instituído como um bandido hediondo, pelas acusações a este filho, ser justamente a defesa deste pela salvação das pessoas pela conversão do Amor, por imaginar que seria possível em nome da espiritualidade libertar a humanidade dos grilhões, das materialidades e subalternidade a um Deus vingativo e cheio de sentimentos de classe. Vamos considerar que Maria pariu Jesus com no máximo 15 anos, necessitou que um homem bem mais velho sonhasse que ela estava grávida do Divino Espírito Santo, pois, as leis do país que esta menina nasceu permitia que mães solteiras fossem apedrejada até a morte...Maria engravidou  nas piores condições possíveis e pariu de forma terrível, uma menina sendo caçada pelo poder Estatal. Compreender o que é Maria mãe de Jesus numa perspectiva do que é ser perseguida pelo sistema e ainda receber o filho assassinado por este, quando este filho é um grande político,  rapaz super solidário, humilde, honesto, gente boa, dói demais, principalmente para quem é mãe, e educa seus filhos nesta lógica de edificação do caráter. 
Reverenciar Nossa Sra da Piedade, a mãe no momento da morte de um filho crescido sempre me trouxe muita angustia, lembro da minha infância com minha avó Amália, que me forçava a frequentar o culto ao Jesus morto, coisa que eu odiava e odeio, sem medo desta palavra: ODIO! Quem foi educadx dentro da tradição catolica sabe que a semana santa é o grande apogeu da vida de Jesus (nunca entendi, mas deixa pra lá) e essa passagem de Maria que vos trago surge no momento pós calvário de Cristo. A Pietá tornou-se uma das esculturas mais famosas de Maria, Nossa Sra com o filho morto no seu colo, apesar do momento terrível  é uma das representações de Maria que mais gosto, ela retorna o homem aos braços da mãe e isso tem uma significância impressionante  poderosa, porque no mundo, somos nós as mulheres rotuladas como as frágeis  as delicadas, a iminência  Ver a imagem de uma mãe que não se acovarda ao tomar para si o filho condenado como marginal pela sociedade, é de "lenhar". Lembro de uma passagem da vida de Jesus, que ele some, e quando sua mãe vai procura pelo filho politico, este a  trata com a maior hostilidade, perguntando-lhe: - o que é mulher que fazes aqui? (ou algo do tipo) Isso mostra que Jesus não era tão doce, era como a maioria dos nossos filhos, agressivo quando a gente procura invadir a vida intima deles. Maria sabendo que Jesus era filho de Deus, não deixava de se preocupar com o destino do filho do todo poderoso. 
Michelangelo assina a mais importante representação da Piedade de Maria, uma escultura de grandes dimensões, talhada no mármore carrara, material que permite dar um acabamento fantástico (no caso desta o polimento) e reprodução do vigor anatômico do corpo humano. Apesar do artista quebrar a tradição de representar a Virgem Maria numa expressão dramática de dor e sofrimento, que era utilizada nas imagens mais antigas, essa escultura, na minha visão de artista plástica, não anula a dor de Maria. A sua feição de uma mãe muito jovem, o objetivo de Michelangelo (segundo alguns pesquisadores) era passar na feição do rosto uma mulher jovial e resignada, de trabalhar a harmonia da forma, da tecnica, não tira o caráter de sofrimento e dramaticidade da Pietá. Toda volumetria da roupa da Virgem, o corpo de Jesus, numa posição de entrega, a própria feição tranquila e linda da mãe do Cristo morto, todo esse arranjo num só bloco, uma só matéria  mãe e filhos unidos, assim como é depositado nos braços da mãe que amamenta, é entregue aos mesmos braços que conduz para o fim, a morte. Isso me comove, posto que sempre move em mim a seguinte pergunta: 
- O que acontece depois que um filho morre?
A obra de Michelangelo está em exposição na Basílica de São Pedro, infelizmente quando eu for lá visitar não poderei tocar, pois um "demônio" atacou a escultura com um martelo, prejudicando o olho esquerdo e o nariz da Virgem. A gente sabe que a imagem de Maria é sempre vitima de ataques "demoníacos" e algumas correntes religiosas que se "dizem" Iconoclastas, não aceitam reverencia `a imagem, não consideram a importância mística, nem política de Nossa Sra. Uma ideologia bem mais velha que o nascimento de Jesus, a tradição grega da perversa misóginia , que  inclusive o catolicismo não consegue se livrar, mesmo sabendo que Maria mãe de Jesus é quem sustenta a fé nesta igreja.

P.S: algumas correntes defendem que Nossa Sra da Piedade e Nossa Sra das Dores representam a mesma passagem. Prefiro falar das em separado, pois, a imagem da Nossa Sra das Dores merece uma abordagem mais especifica.

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