sábado, 30 de março de 2013

Havia um trem no caminho...

"Ói, ói o trem, vem surgindo de trás das montanhas azuis, olha o trem
Ói, ói o trem, vem trazendo de longe as cinzas do velho éon

Ói, já é vem, fumegando, apitando, chamando os que sabem do trem
Ói, é o trem, não precisa passagem nem mesmo bagagem no trem

Quem vai chorar, quem vai sorrir ?
Quem vai ficar, quem vai partir ?
Pois o trem está chegando, tá chegando na estação
É o trem das sete horas, é o último do sertão, do sertão

Ói, olhe o céu, já não é o mesmo céu que você conheceu, não é mais
Vê, ói que céu, é um céu carregado e rajado, suspenso no ar

Vê, é o sinal, é o sinal das trombetas, dos anjos e dos guardiões
Ói, lá vem Deus, deslizando no céu entre brumas de mil megatons

Ói, olhe o mal, vem de braços e abraços com o bem num romance astral
Amém."

Gosto muito de andar pelos matos, sair andando com amigxs queridxs que tenham disposição para conhecer lugares, pessoas, plantas. Tenho essa pratica desde que passei pelo meu momento de "epifânia", cada dia mais sou encantada e amante das minhas visitas  a outros ambientes. Amo tomar banho de cachoeira, conversar com Oxum sobre lamentos, sonhos, principalmente clamar pela presença linda, amorosa e feliz dela na minha vida. Neste sábado decidimos seguir rumo a cachoeira do Urubu, com minha turma de pessoas que amam esse contado com outras vidas. A cachoeira do Urubu , que podemos considerar como um canyon de Santo Amaro, tem  uma presença mística incrível, apesar da ação devastadora que anda promovendo o homem e o lixo que eles produzem com sua falta de educação e respeito pela vida, continua ainda um local mágico, como diz o maravilhoso Guimarães Rosa: "perto de muita água, tudo é feliz!" , a nossa linda queda d'agua continua promovendo um espetáculo de inigualável beleza e aprendizado. Nesta minha andança com amigxs queridxs, tivemos uma grande aventura, e aula sobre superação, que vou trazer para toda minha vida.
Um trem no meio do nosso caminho foi o grande instrumento para a minha reflexão sobre a vida. Existe um grande temor para as pessoas q visitam o Urubu que é a região do pontilhão do trem. O pontilhão é uma ponte, elevada sobre um riacho muito raso, neste local não existe espaço de sobra para vagões dos trens e transeuntes. Eis que se inicia a nossa aventura no sábado pascoal, encontramos no pontilhão o trem. Seus vagões parados, atravancando o nosso objetivo, tomar banho de cachoeira. Antes de saber que os vagões ocupavam a parte da ponte, festejei o encontro, o amigo Bruno Castro de imediato colocou a música de Raul, Trem das 7 para tocar no seu celular, feliz celebrei o encontro com o trem e efusiva posei para os devidos registros. Mas logo, logo o trem seria o nosso problema. Devo avisar que as 6:50 da manhã, minhas queridas e queridos amigxs bateram a minha porta, com um tempo chuvoso, daquelas chuvas descaradas, empata passeio, entretanto ela não foi suficiente para tirar o nosso entusiasmo pelo passeio. Encaramos o que deveria ser nosso destino, a cachoeira do Urubu. Caminhamos pelos trilhos pedregosos, que é um esforço físico incrível  e quando estamos proximxs do nosso destino, um trem e seus vagões, um paredão que barrava o nosso suposto conforto. Existia 3 opções a serem escolhidas, 1a e supostamente mais segura: desistir do destino e retornar para nossas casas; 2a atravessar por de baixo do trem e enfrentar a altura da ponte, com o risco de cair no riacho, ou do trem arrastar e estraçalhar a existência em poucos segundos, mas era a que seria mais econômica no que tange tempo, seria rápido chegar ao destino por baixo do trem; 3a subir os vagões, andar por eles, até chegar ao local combinado, perigosa, mais segura que a 2a alternativa, porem, demorada para chegar ao objetivo estabelecido. Calculei meu peso , tamanho e poder de elasticidade e seguir por baixo do trem, achei que o subir e descer dos vagões roubaria minha energia, sabia que na volta precisaria de energia, porque estaria mais cansada. Minhas e meus amigxs escolheram subir e descer os vagões. Todxs colaboraram uns com os outros, os meninos tiveram mais facilidade em subir os vagões e retornar para ajudar as meninas, mas chegamos ao nosso destino.
Voltando da nossa ventura, compreendi que a vida é como aquele caminho que acabara de cumprir. Existem trens que embaçam o alcance do nosso destino, entretanto existe também a seta, a fé que nos guia que é preciso seguir, porque a chegada é o objetivo, tem pessoas que desistem e retornam, porque na ilusão de que é uma escolha segura, confortável  não acreditam que são capazes de superar o medo e o apego, que são demônios que impedem a nossa evolução e  vitória. Já tomei muito a 1a opção de desistir e não seguir o que me era destinado, pois, não achava importante o enfrentamento do problema que se estabelecia na caminhada, colocava a culpa de tudo no trem. A minha decisão de seguir por baixo me alerta para a minha coragem, acreditei desde o começo que o trem iria ficar paradinho ali, entoei o mantras do raio da chama violeta e não pensei em medo. O medo é  um demonio terrível  que paralisa a nossa felicidade, que boicota o nosso movimento vital. Seguir lembrando de uma aula de desenho: o professor dizia sempre que para desenhar uma reta sem régua, não deveríamos olhar a ponta do lápis, mas mirar o ponto de chegada do traço, e assim deve-se seguir rumo com a vida. Não podemos olhar para o riacho cheio de pedras que fica lá em baixo, esperando a nossa queda, é preciso focar onde se quer chegar, o riacho não é meu inimigo, ele já vive ali, é dele estar lá em baixo, é meu decidir seguir avante. Num dado momento, Bruno Castro que foi o mais audaz  no enfrentamento do trem, e primeiro a atravessar o pontilhão, veio por debaixo do trem para me ajudar, existia uma grande lacuna entre os trilhos, e dava medo mesmo, apoiei nele para atravessar essa parte. Se não existisse amigxs naquele momento, com certeza não conseguiria atravessar, logo próximo da chegada ficaria perigoso seguir. Esse é o grande presente que a gente ganha no caminho, a presença dxs amigxs, na vida seguir sem grandes amigxs é impossivel, assim como transpor o trem exige despir-se de medo, focar no destino, ter bons amigxs, que colaboram para o seu sucesso é imprescindível.  As escolhas são pessoais, mas amigxs são motores que nos impulsionam para frente, portanto a escolha de boas pessoas para estar conosco, bem como agradecer a presença divina dessas pessoas nas nossas vidas, é um exercício que devemos praticar diariamente. A chegada para mim foi momento de louvar, agradecer a oportunidades de estar ali, não existia mais o sentimento de que foi perigoso, e desgastante passar por tudo para chagar até ali, o que existia era o sentimento de felicidade pelo sucesso, pelo lindo espetáculo que a natureza estava nos  presenteando, tão generosamente. Refletir que o ápice da chagada é o momento que a gente deve   se curvar para as coisas do universo, porque o movimento de seguir é continuo, e faxinar as nossas emoções e atitudes é que nos permite o luxo de ter tempo para um belo e revigorante banho, pois, a todo momento da nossa existência precisamos de limpeza,  livrarmos dos excessos, das ilusões, da preguiça e dos pensamentos negativos, que são gatilhos que nos tiram do verdadeiro destino que devemos seguir, ser feliz. Chegou um colega, que fui logo perguntando como ele conseguiu atravessar o trem, ele me explicou que havia outro caminho, mais fácil, pois é, fiz uma analogia ao conselho do colega, quando a gente procura conhecimento, retornar fica mais fácil, não é mais necessário a angustia de ter que enfrentar o trem, depois que a gente "estuda e pesquisa" fica mais fácil evitar os trens que estão parados, bem que, é importante a compreensão que o estava pisando pela trilha que o trem abriu, então aquele caminho é dele também. Retornamos, para mim vem a certeza de que tudo na vida é questão de ACREDITAR QUE TODO TEMPO É BOM, E HÁ TODO TEMPO A VIDA SEGUE, que o mais importante é saber que  mesmo com a ilusão do trem que atrapalha o caminho, não é ele o inimigo. O inimigo é  o que projetamos para nós. Pode ser clichê, mas cuidemos mais de seguir, mesmo que as nuvens estejam chuvosas, que a estrada seja longa, que haja trens nos caminhos, escolhe seu exercito amigo, sua melhor estratégia e segue, sem ferir, sem ser ferido. Hoje, estive feliz, porque decidi ser assim,  fazer assim , e mesmo o trem embaçando o bom tempo que se abriu, ele não tirou de mim o sol, as águas, a mão amiga e a  força para chegar onde eu queria. Amém, Axé e muito obrigada universo!

Um comentário:

Non je ne regrette rien: Ediney Santana disse...

"Um trem no meio do nosso caminho foi o grande instrumento para a minha reflexão sobre a vida. Existe um grande temor para as pessoas q visitam o Urubu que é a região do pontilhão do trem. O pontilhão é uma ponte, elevada sobre um riacho muito raso, neste local não existe espaço de sobra para vagões dos trens e transeuntes." Quando criança vi na estação ferroviária chegar no trem o corpo de uma senhora que caiu dessa ponte, ela vivia la perto, uma cena triste.