domingo, 5 de fevereiro de 2012

10 passos para frente,10 passos para trás e ficamos no mesmo lugar!

Neste começo de madrugada andei conversando com Zé Vinicius,um artista plástico, conterrâneo e que nunca conversei cara a cara.Admiro o trabalho de Zé e a pessoa que ele demonstra ser nas suas postagens,sempre cheia de rebeldia, e alem de tudo ele é amigo do meu irmão/amigo de Ailton Jr.Onde eu e esta pessoa também nascida em Santo Amaro encontramos nosso ponto de convergência,a crença de que não é no sentido cultural que a nossa sociedade deu de idolatria da vitoria que de fato se encontra a "felicidade".Nós nascemos tod@s muitos saudáveis,com o entendimento de que nos destinamos a algo maior que é amar e se reconciliar com as coisas do mundo,para morrer em paz.Aí vem a cultura e nos desvia,nos torna pessoas doentes.Paulo Freyre no escandaloso e lindo Pedagogia da Autonomia nos diz que quanto mais culturais somos,mais limitados estamos.Vejamos os estímulos  do lúdico na infância,é uma coisa de disputa,competição.Uma super valorização do campeão,que sobre o argumento de disciplinar e valorizar,acaba educando pessoas excessivamente violentas e competitivas.Sofri horrores com as aulas de Educação Física,era péssima em esportes coletivos,só na adolescência a capoeira iria me libertar.Sem mencionar o peso da nota,não se premia pelo mérito,a escola é um espaço de exclusão "filá da puta",nada mais injusto do que uma nota.O culto a vitoria é tão perverso que a gente percebe a violência que se comete quando a sociedade elege o padrão.O que para nós representa uma pessoa vitoriosa? Aquela que detém do poder.Mas todo poder não vem da ausência de amor,segundo Jung?
Por muito tempo fui uma pessoa que era estimulada pela competição,existe uma coisa macabra no machismo,de condicionar as mulheres desde muito cedo para disputarem umas com as outras.Pode até parecer paranoia da minha cabecinha louca,mas tem funcionado assim.Uma disputa infundada e desigual,que coloca o feminino armado contra as mulheres.Já pratiquei muito esse tipo de discriminação,já fui vitima dessa coisa horrenda.Inclusive a bem pouco tempo,fui eleita por duas garotas,que no alto de suas belezas normatizadas,cheia de grifes e desejos de consumo.Moveram uma campanha contra a minha pessoa,com direito a ofensas gritadas na madrugada.Resultado,como boas desejosas de vitorias,essa meninas são consumidoras de direitos.Eu como boa rebelde,escrachei com o nome da que me xingou na internet,resultado:estou esperando a intimação.Essas pessoas não sabem a hora de parar e nem reconhecem que erram,o que elas não querem é perder.
Existe um ditado que é muito utilizado de forma altamente preconceituosa,para justificar a ação de alguns marginais.É o famoso,"ele/a não tem nada a perder!" Os Los Hermanos com a canção de Camelo, O Vencedor me toca profundamente,porque de fato eu não sou muito de ganhar.Já perdi demais,deixei muita coisa para trás.Gente,dinheiro,viagens,vantagens.Gritei muito que estava cansada de perder,porem,tem uma coisa que a gente ganha com o exercício da perda.Aprende-se a deixar as coisas seguirem de forma livre,não existe o castigo e nem o apego.Existe a compreensão de que nada de fato nos pertence e que o momento da felicidade não vem da vitoria sobre o vencido,a felicidade está no inesperado momento da conquista,e para isso não devem existir vencedores ou vencidos,Para as competições das vaidades poderosas,existem as guerras e  estas só trazem dor e prazer macabro,doente.
Sei que muitos vão achar esse texto mais uma maluquice UTÓPICA que redijo,não sou inocente a ponto de acreditar que a cultura da vitoria vai se sensibilizar com esse meu entendimento sobre a perda,entretanto,acredito que neste meu tempo de me desnudar dessa coisa estupida que é a disputa,esteja mais consciente de que o fluxo segue sempre.Posso escolher a guerra,o sangue e defender o que acredito que vale a pena,não vou perder isso,porque não quero.Mas deixarei as coisas passarem,os excessos irem embora,conhecer o que me destinei.Não é feliz ser excessiva,estaria desqualificando a minha ideologia.Entendo que não vai descansar a fúria das pessoas,e sempre estarei no olho do furacão,não sou morna,nem omissa,esse é o preço que pago.Deve ter alguém que me ame assim,meus filhos me amam e em algum momento sentem orgulho disto.
Bem verdade que não vou ser mentirosa a ponto de declarar que algumas coisas que perdi por aí não me fazem falta,existe o calor e o sol,que vez ou outra me tiram do sério.Porem,fazendo uma analise muito critica do que sou hoje,os melhores acontecimentos,as melhores pessoas e o melhor de mim,se revelaram no momento em que eu estava perdendo.A permanência e descoberta de amig@s,a pessoa politica que se revelou,surgem justamento na fase em que aos outros olhos eu estava derrotada.
Zé Vinicius definiu a vida como uma linha com dois pontos,nascimento e morte.O que acontece na trajetória de chegada e partida desses pontos,ele deu o nome de vida.Deve ser isso mesmo,a gente vivi para no final partir,o que para muita gente significa a dor da perda.Porque ir embora dói,a gente se ilude demais com materialidade,e saber perder é talvez aprender a conviver confortavelmente com a dor.Vitoriosos,"patronizados" pela nossa sociedade esquizofrênica não sabem passar pela dor,sucumbem assim que ela se manisfesta e não conseguem se recuperar,por isso geralmente agem de forma desonesta e invejosa,e fazem de tudo que é mais sujo,imundo e perverso quando ninguém tá olhando.
Existem coisas que me dão muito mais prazer e vigor do que a vitoria,pode até parecer clichê,mas caminhar pela vida,encantando e sendo encantada pelas coisas que se movem é bem mais gostoso e louvável.

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