terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Montagem errada...

Era sexta-feira,tinha acabado de assistir a 4 aulas seguidas da disciplina Gênero e Violência.Estava sentada no ponto de ônibus,que fica defronte ao PAF I ao lado da baiana do acarajé. Um certo rapaz que tinha ficada no sábado da semana passada resolveu ligar e ficamos proseando enquanto espera meu transporte chegar.
Eis que surge do nada, um desconhecido vestido de camisa vermelha,calça preta e tendo numa das mãos um lata de cerveja.Esta criatura senta ao meu lado, a minha frente está um grupo de estudantes. Continuei a minha conversa sobre musica e os problemas da capital da Bahia.Percebi que o desconhecido falava coisas,sobre uma mulher que sabia demais,uma mulher que queria ser mais do que o mundo.Achei engraçado.
Comecei a ficar entediada com a conversa do ficante e preocupada com o atraso do meu transporte.Quando um tal de radar que tenho dentro de mim,começou a apitar e disse:
- Se ligue sua lerda,esse cara tá te ofendendo!
Desliguei o celular,mas como telefone é uma coisa desagradável,uma amiga decidiu me ligar para conversar trivialidades.O meu alarme de paranoica não parava de apitar e a criatura dos infernos não parava de  falar.Ainda estava ao telefone quando senti a mão do desconhecido no meu pé.
Enfaticamente mirei o rosto do louco. Era um homem com mais de 40 anos e tinha a epiderme da cor do azeite,era gordo e havia uma coisa de deboche que eu detesto. Sem pensar nas consequências e cheia de ousadia,falei:
-Você pode falar o que quiser,mas não me toque!
Este homem levantou,e o meu alarme gritou:
-Chame a polícia.Chame a guarda universitária.Peça ajuda a essas pessoas no ponto!
Só que não existia nada que suscitasse esse tipo de auxilio. Fingir tranquilidade,quando o tal desconhecido começou a fazer um escândalo direcionado a minha pessoa. Jamais ouvir em toda minha vida tantas palavras de baixo calão.
Apesar de assustada, fingir que a "baixaria" não tinha nada haver comigo,afinal nunca tinha visto aquele homem tenebroso.
Assim como tenho voz de alarme,possuo uma voz que me guia com muita sabedoria nestes momentos.Esta bussola aconselhava que  me mantivesse quietinha,no mesmo lugar,porque se eu me levantasse,este louco iria me dar uma surra.
Quando de repente a criatura nefasta fecha a mão e dar um soco na parte de acrílico do ponto de ônibus.As pessoas olham. Penso em me levantar e pegar o primeiro coletivo,a voz guia sinaliza que é uma bobagem e que ele iria me seguir.Permaneço no mesmo lugar, gélida,solitária e com saudade da minha cidade. O miserável do homem fica de soslaio,escondido atras do ponto ,começo a fazer minhas orações,ele levanta e sai em direção a Garibaldi,o meu carro chega.

Quando passei por isso,percebi como o espaço publico pode ser mortal para uma mulher.Agradeci muito a Deus/a,aos orixás, tod@s os guias, espíritos de luz por não ter tomado uma surra daquele homem.Talvez se essa tragédia acontecesse,iniciaria na minha vida uma verdadeira via cruzes.Posto que a vida de uma mulher que é violentada por uma homem num espaço publico passa pelo perverso preconceito social.Estava vestida com um short, já se passava das 22:00, isso seria agravante. Tod@s,inclusive meu pai,iam em certo momento questionar se  existia uma relação afetiva ,mesmo que casual,com aquele homem hediondo.É assim que funciona o julgamento do senso comum. O dia da semana, também iria contribuir para uma analise maledicente sobre a minha pessoa,era uma sexta-feira,as pessoas costumam sair para beber seus desesperos,encontrar suas amantes.Um amigo me disse que esse é o dia universal d@s amantes. As pessoas que estavam no local do ocorrido, e que em todo processo ficaram indiferente,certamente acreditavam que o que estava se passando era uma briga de casal hétero e passional.Este homem poderia me matar,que ninguém ia impedir ele de fazer tal atrocidade,afinal aquelas pessoas estavam assistindo a um espetáculo da vida privada,e como diz o adágio que instituciona a violência contra as mulheres:" em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher!" Essa é a logica do patriarcado,vem dando certo desde a Grécia,bem antes de Jesus pregar "Amar ao próximo como a ti mesmo"Acredito que no final do julgamento o cara fosse condenado,porque sou uma aluna da toda "poderosa"(sic)UFBA e por está ali diante dele uma estudante do Bacharelado de Estudo de Gênero e Diversidade.As mulheres poderosas do  NEIM não iriam descansar,enquanto este homem não fosse penalizado.
Mas se eu estivesse na Barra tomando uns "bons drink?"Se de fato mantivesse uma relação afetiva com o desgraçado do cara?Se gostasse de trepar com todo mundo e a ele dissesse não?Eu seria culpada pela agressão que sofresse por este homem?Isso daria o direito desse pilantra me agredir e tirar a minha vida?
Tenho medo da sociedade que aí está, e que aplaude os estupradores e violentadores de mulheres,porque  julgam que merecem ser privadas de direitos pelo julgamento das  roupas que vestem,pelos lugares que frequentam,a quantidade de drogas licitas e ilícitas que consomem. Misericórdia, para esse tempo de violências veladas e repetidas entre várias cores e suas nuances. Atualmente uma mulher é violentada em frente às câmeras de programas de 5ª com status de grande projeto educacional,e os responsáveis se omitem ao que a lei determina. Antes de ser atacada verbalmente pelo filho do satanás,já evitava carona com   "conhecidinhos", beber excessivamente.Sou bastante intolerante às investidas afetivas insistentes que os homens adoram cometer,isso para mim é atitude politica.Entrtanto isso não pode ser usado como regra, as pessoas não podem ficar paranoicas a ponto de pararem de exercitar o direito de liberdade inalienável pelo corpo que as pertencem,por conta do medo de serem violentadas duplamente.1º pelo agressor direto,2º pela sociedade que julga com vulgaridade e sai ferindo direta e indiretamente.
Talvez a menina que esteja no programinha de 5ª da emissora que é professora de horrores,não esteja consciente para o acorrido.A onda é ser linda,loura e drogada para esquecer todas as dores,e depois quando toda beleza for ceifada pelas playboy's da vida,ela vá depor na igreja evangélica de Jesus dos Ipod BBB arrependidos,e grave um vídeo que vai "bombar" no youtube. Mas a família desta criatura? E se não tiver família,Como ficam as mulheres que em estado vulnerável são violentadas,com toda essa campanha em apoio a um estuprador?
É,estou com várias "encaracolações" e percebo que o Estado de barbárie anda retornando num "neo" qualquer.Como no inicio da organização da sociedade,a mulher,com suas montagens do feminino,como sempre é quem acaba perdendo. 

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