domingo, 13 de março de 2011

*Loucura a gente se encontrar no meio dessa multidão!

O Carnaval de Salvador a cada dia se revela para mim como lixo.Adoro sair com meus amigos seja para "Roma ou para o Paraguai".Amo dançar,resenhar e ver gente.Na capital da Bahia dá para fazer tudo isso "junto e misturado."
Existe um lado nessa festa de celebração a carne que feri meu olhar. Os pobres,os "capitães de areia", a violência excessiva em todas as esferas.Sempre foi assim,desde que ia para Avenida fantasiada de odalisca nos ombros de meu pai.
Mas esse Carnaval de 2011 me proporcinou um dos momentos mais lindos da minha vida,mesmo que tenha sido uma ilusão de folia dos corpos desesperados.Não houve corpos,boca na boca,genitálias em fogo,nem bebedeira delirante.Havia no Cristo,sobriedade do sentimento que doe,porque é grande e não cabe no corpo que ele resolveu pousar.
Não queria ir para Salvador,queria estar em Pernambuco, tipos de coisa exótica de quem incorpora a coisa cult(acredito que Recife e Salvador são bem análogos nos seus carnavais).Tudo ficou triste,inclusive os planos falidos de ir para o Frevo,beijar Otto e Alceu.Como quem tem amigo não se governa,segui os amigos.Queria ir de Ilê na Avenida,recebi uma boa proposta,excelente,diga-se de passagem.
Os amigos queriam a Barra/Ondina,Ivete e tal,seguir.Quando pisei meus pés em Ondina,a primeira pessoa que meu amigo aponta,foi ele.Ele que não sabe o quer,ele que há dias já estava no Carnaval,curtindo toda a liberdade que gozam os homens.Ele nos seguiu,naquele momento pensei:VINGANÇA!
O Gandhi estava descendo a Barra,os homens de branco com seiva de alfazema,ofereciam-me os colares em troca de beijos,a oferta era boa,muitos eram belíssimos,nunca recebi tanta borrifada de alfazema,nem em incorporação de Oxum.Não tive coragem,ele vinha atrás de mim, me chamava para conversar e eu não tive coragem de mostrar para ele o quanto podia arranhar e sangrar o seu orgulho de machinho.Tem horas que o ranço da educação cristã fala mais alto ao coração.
Ele conseguiu me roubar da folia,conseguiu me colocar como a mulher dele naquele dia de carnaval.Mas foi no batente do Cristo,vendo o farol e as luzes dos trios e suas musicas ruins,que ele me deu de presente o seu amor.Não foi erótico,foi delicado,havia dor na voz dele ao me dizer que queria que o tempo voltasse,para que nunca tivessemos ficado,para que o sentimento não acontecesse daquela maneira.Ele não queria estar ali ao meu lado,assim como eu,não foi essa a nossa programação.O destino é um Deus impiedoso e genioso,nos colocou ali,um ao lado do outro,cheio de sentimento perecível,mas de uma força imensurável.
Ali no Cristo da Barra,enquanto ele me dizia,coisa de sentimento sofrido ou falacioso,a musica ruim parou,as crianças negligenciadas sumiram,a polícia homofóbica desapareceu,o povo drogado do sudeste ficou legal,os negros e pobres estavam felizes com justiça.Tudo ficou prefeito,a brisa salgada que estraga os meus cabelos, a poluição que faz ele lacrimejar,nada disto existia.O que ali se apresentou foi o entendimento de que se ama e se é amado,mesmo que seja breve,que seja pouco e que seja coisa de carnaval.Ali éramos no nosso universo particular,soberanos.
Rainha e Rei,tínhamos a cidade aos nossos pés,havia uma coisa rara nos carnavais,a superioridade de saber deixar amar,como sempre o amor vem e vai.Sofrido,poético e livre.
Tive vontade de chorar,mas sou uma menina que não chora na frente de um homem de extrema direita.Aninhar nos meus braços e embalar seu sono,tive vontade de voltar a ser "mulherzinha"
Mas é carnaval e como fala o Mestre Chico "Amanhã tudo volta ao normal" e devo estar atenta e forte,não há tempo para amores assim,isso é devaneio e ilusão.Fantasia de carnaval dos desesperados.
Quero encontrar a racionalidade,nada mais irracional do que amar um homem como ele,preso ao seu mundo masculino,entre cálculos e refém da sua ilusão de liberdade.
É tempo para acertos,coisas rápidas e que podem dar lucros.Comecei a organizar minhas emoções,é tempo de construir o que se quer.O mundo não pertence aos espontâneos,ele pertence aos que vigiam!


*o título desta postagem é um trecho da musica Cheiro de Amor no Ar,composição de Carlos Neto.

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