quarta-feira, 11 de agosto de 2010

3º ponto de Rosário: Flor vermelha


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A fama de Rosário espalhou pela cidade:

 Miserável, honesto, exterminador, preto desgraçado, viado, crente doente...


Era silencioso, isso não afastava os colegas de corporação, ao contrário, aproximava, Rosário significava poucos problemas com denuncia, o cara era “gente boa”, calado e não era tipo ambicioso, que desejava mostrar serviço aos seus superiores para fazer carreira, mas sabiam: ele era um “urubu”farejador de carniça.


Quando sangra  a primeira vez toma-se gosto, existe um insaciável sabor em sangrar tudo que te incomoda. Fazia um esforço angustiante e sofrido, quando contrariado, porque não sabia mais argumentar, conversar. Começou a sentir horror às mulheres, elas eram indecifráveis para dele.

Foi noivo da filha do pastor por 5 anos, fizeram enxoval, compraram terreno, tudo era coração, flores, bichos de pelúcia, até o dia que Joyceanny confessou  estava sufocada naquele mundo de regras, de ausência de vida, havia se apaixonado por uma colega de sala, não queria enganá-lo, principalmente não queria se enganar.
Na cabeça dele só vinha uma palavra : “sapatona do satanás”, ela estava possuída pelo demo, precisava de ajuda espiritual.
Com a ajuda do seu sogro pastor, organizaram um culto de descarrego, porem Joyceanny já havia fugido com a ajuda do irmão.
Foi a única  vez que Rosário chorou, emagreceu, um escândalo na cidade, os irmãos de congregação fizeram corrente de oração, o povo da rua fazia piada, mudou-se para a capital.
Dedicou-se a estudar para o vestibular, e foi profetizado que um dia ela o procuraria e ele estaria esperando, perdoaria,  Joyceanny estava possuída, não era ela.
Nenhuma mulher conseguia se aproximar com sucesso de Rosário, classificava todas de prostitutas, havia um desprezo pelas meninas que gostam de homens fardados, detestava aquelas  que falavam demais, as independentes. Estava na bíblia: as mulheres são aliadas das serpentes!
As mulheres do mundo eram a semente da discórdia, de todos os males. Decidiu viver só, sem esposa, sem sexo, sem desejo. Alias, havia muito gozo, quando derramava o sangue dos podres, dos ratos imundos, da escoria humana.
Quando ficava de plantão nesta cidade do recôncavo,muitas mulheres procuravam Rosário,ele era lindo, um tipo diferente, másculo, alto e fardado. Habitava o imaginário das mulheres dessa pequena cidade, que por ser tão pequena, qualquer estrangeiro que se aproxime, logo vira “objeto de desejo”.


Havia um “puteiro”onde acontecia comercio sexual com menores, todos frequentavam, até os policiais recebiam um , para dar uma protegidinha no comercio local.
Tudo seria igual se não fosse por Rosário ter decido não passar em vão. Odiava prostitutas, viados, ladrões, traficantes, drogados com toda força da sua fé, eram essas pessoas que impediam um mundo da retidão cristã, ele sentia um nó na garganta ao ver mulheres despidas, drogadas, oferecidas como comida azeda.
Os colegas de trabalho achavam que Rosário era crente demais, um  cara jovem, bonito que não trepava? Era esse o motivo da psicopatia de Rosário!
Será que ele era bicha?
Resolveram de “grupo” fazer ronda no brega e armar uma mega foda que revolucionaria a vida de Rosário e ele esqueceria a viadagem.
Chegaram ao brega de Dona Judite, uma velha gorda, de uma cor acinzentada de tanto usar crack. O local tinha cheiro de mofo, misturado ao perfume das angélicas que estavam em potes de barro no corredor, cheio de portas com cortinas brancas de um cetim alvíssimo, uma foto de São Jorge ao alto, na parede que dava para uma sala muito pequena. Uma puta galega estava vestida de azul e vermelho, tocava uma musica do grupo Calipso, muitos homens gargalhavam, mulheres de peitos muchos e barrigas flácidas, todas com cabelos longos e roupas curtas, mas uma era especialmente bela para Rosário, estava de vermelho, unhas enormes, fumava incessantemente, tinha uma flor no cabelo, tinha um peito duro, estava sentada.
Era uma diaba, ele viu, queria atentar a fé dele. Os colegas começaram a falar dessa puta para ele:

-vá nela rapaz, faz um boquete bom dá porra!
-Fode com essa, é a mais bonita que tem aqui ,e os dentes são bem conservados !

Rosário queria vingança muito mais do que foda orgásmica.
Planejou em frações de segundo como ia exterminar aquele antro do demônio, como um grande ator decidiu ir com a morena do satanás para um dos quartos do corredor.

-->O quarto tinha uma penteadeira cheia de frasco de perfumes, esculturas de bibelôs de  anjos, uma vela vermelha acessa e a imagem de Santa Barbara com flores vermelhas de cera numa jarro, na parede um pôster de Ivete Sangalo e outro de Luan Santana. Ficaram em silêncio por alguns minutos quando Rosário perguntou:

-Porque você idolatra falsos ídolos? 
-Ah você é crente?
-Sou evangélico e servo de Jesus!
-Oh meu filho,eu também sou temente a Deus , mas a gente tá aqui pra fuder, se você quiser conversar sobre a bíblia tudo bem, mas fique sabendo vai ter que pagar, porque tempo é dinheiro.

Ficaram em silêncio por mais alguns segundos,quando ela perguntou:
-Você quer que eu faça como?
-Como o quê?
-Oh negão, você quer o serviço completo, ou só quer uma trepada comum?

Rosário nunca tinha ouvido uma mulher tão direta, ainda mais com essas coisas de sexo. Era bonita, tinha um cheiro diferente, não era lavanda, era cheiro de pele, aquela flor vermelha nos cabelos longos dela, a luz da vela na pele, era uma diaba linda, uma serpente sibilante.
Chamava-se Jessica, tinha um olhar faiscante, uma boca molhada, cheirando a fruta.
Rosário não se deu conta, quando viu que estava nu, jorrando por Jessica, foi a desgraçada da Padilha que o enfeitiçou, aquela mulher estava possuída pela Maria Padilha, ele agora estava imundo, sujo, igual a ela. Tentou matar essa filha do diabo, tentou matar todos daquele local, mas a presença dela, a flor no cabelo, o cheiro, a boca de fruta, a falta de afeto, deram em Rosário uma sensação de piedade, uma desejo antagônico de paz, uma lembrança do que não viveu com Joyceanny.

Vestiu a roupa,quando foi abraçá-la, Jessica disse rispidamente:
-Pote botar os dez real aí em cima da minha penteadeira em baixo da minha Iansã!

Rosário servilmente assim o fez, saiu daquele quarto amando aquela mulher, querendo transformar a vida dela, afastar a amada  daquela vida dedicada aos satanás africanos, ele iria conduzi-la ao caminho da retidão, não vacilaria como vacilou no passado de noivado, isso era um designo de Deus, uma nova chance...

2 comentários:

Jurandy Boa Morte disse...

"Vem nessa Gira vem, Caboclo vem cá!!!"... rsrsrsrsr Depois ouça história de fogo de Otto.

ADORO.

Guellwaar Adún disse...

E o pobre do Rosário acaba por deixar enrolar no famoso xale da doida que é sua própria necessiade messiânica de amar por amar... seguramente, teremos um Rosário mais violento ou mais trouxa, ou mais nenhuma das duas coisas, simplesmente um fio destecido de sentimentos... Valeu, dona Pagu, gostchei...